Limites não são barreiras intransponíveis, são fronteiras necessárias.

Como você tem sentido os efeitos dessa longa quarentena em seu corpo, mente e relações?

Não resta dúvida que o Covid-19 foi um divisor de águas nas nossas vidas e vem exigindo muito de nossa capacidade de adaptação, prontidão de resposta e antecipação de cenários futuros.

Nesse contexto dramático de imprevisibilidade, instabilidade e incertezas, indivíduos e organizações estão tendo de se reinventar e repensar novas formas de atuação no mundo.

Ninguém havia realmente se preparado para o que estamos vivendo e aqui estamos nós, ainda “trocando o pneu com o carro andando”. E com a reestruturação das relações profissionais com o home office, as pessoas tiveram de reorganizar o cotidiano, aprender novos modos e ferramentas de trabalho, se adaptar ao ensino remoto e conciliar as diversas rotinas dos moradores da casa ou membros da família.

As fronteiras entre casa, escola e trabalho foram devidamente pulverizadas no processo, o profissional invadiu o pessoal e os papéis sociais foram se misturando muito além dos limites saudáveis.

Esse cenário de insegurança e falta de contorno pessoal provocou desordem no nosso cotidiano e muitas pessoas têm apresentado esgotamento físico e emocional e relatado desgaste das relações. A falta de perspectivas e de lazer, somada à convivência intensiva e contínua tem gerado estresse emocional, conflitos e até mesmo separações.

A estafa de quarentena se tornou uma realidade para a maioria de nós. Houve um aumento expressivo de sintomas de ansiedade, depressão e da Síndrome do Esgotamento Emocional, que é resultado de um aumento da carga emocional e nível de estresse além dos limites diários que somos capazes de suportar.

Como ainda não sabemos realmente quando esse período de incerteza irá terminar, é fundamental começarmos a esboçar uma saída desse estado de angústia.

A frase “estamos todes no mesmo barco” não se aplica. As relações de poder foram reforçadas, a desigualdade social se aprofundou e há um clima de desesperança, medo do futuro e insegurança pairando sobre nossas cabeças como uma nuvem densa e persistente. Nunca foi tão necessário se voltar para seu próprio interior e buscar aquele centro calmo em meio à turbulência. Em outras palavras: voltar-se para seu mundo interior, fortalecer seu eixo interno onde possa se apoiar.

Nesse momento é fundamental que cada pessoa tome para si a responsabilidade sobre sua própria vida e a daqueles de quem cuida, como das crianças e dos idosos. Mas, acima de tudo, é essencial cuidar de si para suportar a carga.

Cuidar de si significa aprender o próprio limite sustentável, ser capaz de verbalizar seus sentimentos e garantir suas necessidades, erguendo as trincheiras necessárias para sua autoproteção e daqueles que ama.

Como em um daqueles filmes de ação em enredos apocalípticos, onde o herói mostra sua vulnerabilidade e isso fortalece não só os laços com outras personagens, mas seu próprio autoconhecimento, força de sustentação e ação, reconhecer os desafios emocionais do momento que está vivenciando e assumir suas emoções irá fortalecer sua potência.

E, diante desse novo cenário, nas organizações ou empresas nas quais impera a lógica capitalista, é importante que as próprias pessoas estabeleçam limites saudáveis, sejam elas líderes ou colaboradores. Será preciso “educar” o mercado de trabalho para essa realidade que está se impondo.

Sei que essa é uma questão delicada, mas do ponto de vista pessoal, há muito o que fazer para manter sua integridade física e sanidade mental.

Limites são como a pele que recobre nossos corpos: é o contorno que permeia e protege, permitindo as trocas.

Parto da premissa que nos desligar um pouco do mundo exterior nos permite nos ligar ao nosso próprio interior, o que possibilita encontrar o equilíbrio na instabilidade e o foco em meio ao nevoeiro. Isso garante mais produtividade e excelência do que ficar se arremetendo contra os recifes e corais. É uma questão de fé na própria força de superação combinada a assertividade.

Quero compartilhar algumas dicas e práticas que tem funcionado tanto para mim quanto para as pessoas que acompanho, estabelecendo os limites saudáveis das diversas relações, pessoais e profissionais.

  1. Procure ser ASSERTIVA Busque falar de forma clara e calma sobre suas necessidades e expressar seus sentimentos e desejos

  2. CUIDE DE VOCÊ Cuide da sua saúde integralmente, com uma boa alimentação, movimentos e nutrição interior

  3. Busque NÃO JULGAR Você sabe que não está fácil para ninguém, então observe com isenção o comportamento do outro e perceba como lhe afeta, se expressando sempre possível, dentro da Comunicação Não Violenta

  4. SEJA AUTORRESPONSÁVEL Assuma responsabilidade sobre suas emoções e sobre seus comportamentos e procure não projetar seus medos, inseguranças e anseios nas pessoas ao seu redor

  5. FORTALEÇA SUA AUTOESTIMA Estimule sua auto confiança, abraçando os seus medos e procure integrar sua raiva em práticas de auto-observação e liberação segura

  6. ESTABELEÇA LIMITES CLAROS Perceba se não está se sobrecarregando e exercite dizer "não" com delicadeza e tato, aprenda a delegar tarefas em casa e no trabalho e reconheça quando precisa descansar

  7. DESCONECTE-SE de aparelhos eletrônicos, comunicadores instantâneos ou das redes do trabalho em seus horários de descanso, aos finais de semana e férias

  8. APOIE-SE NO AMOR Expresse seus sentimentos em palavras e gestos, agindo com empatia e compassividade